À procura do Indicador de Inovação...

17-09-2013 16:38

A Comissão Europeia acaba de lançar um indicador que pretende medir os resultados da inovação (outputs). Este trabalho, iniciado em 2010 no âmbito da Estratégia Europa 2020, é agora apresentado, após várias reuniões e workshops que se realizaram ao longo dos últimos três anos.

A ideia de haver um único indicador que medisse os resultados da inovação foi recebida inicialmente com algum ceticismo por vários Estados-membros (onde se incluiu Portugal), dada a natureza transversal, holística e sistémica do processo de inovação. Além disso, existia desde 2001 um índice (que origina um ranking) que compara os países em termos de inovação (medindo inputs e outputs), não parecendo ter grande valor acrescentado a existência de um único indicador apenas para medir os outputs.  

De facto, e passados três anos de trabalho técnico, as dúvidas iniciais parecem ter tido fundamento, dado que o resultado a que se chegou não foi a definição de um único indicador, mas sim a definição de um indicador compósito, que agrega quatro indicadores já existentes e presentes no UIS - Union Innovation Scoreboard (ranking europeu de Inovação). Ou seja, o que se fez não foi mais do que um excerto de uma parte do UIS, na sua componente de indicadores de output.

Assim, este “novo indicador” integra quatro indicadores já existentes e presentes no Union Innovation Scoreboard:

 

  • Nº pedidos de patentes, por bilião PIB, em PPP (indicador 2.3.1. do UIS) – este indicador pretende medir a inovação tecnológica;
  • Emprego nas atividades intensivas em conhecimento, em percentagem do total do emprego (indicador 3.2.1. do UIS) – este indicador pretende medir a alteração na estrutura produtiva;
  • Contributo das exportações de produtos de média e alta tecnologia para o saldo da balança comercial (indicador 3.2.2. do UIS) e Exportações de serviços intensivos em conhecimento (indicador 3.2.3 do UIS). Estes dois indicadores pretendem medir a competitividade dos bens e serviços intensivos em conhecimento, tendo cada um peso de 50%;
  • Emprego nas empresas de elevado crescimento, de setores inovadores (indicador 3.1.3. do UIS, embora sem valores definidos na edição de 2013) – este indicador pretende captar o contributo das empresas de elevado crescimento para a dinâmica da economia (as empresas de elevado crescimento são as que tem mais de 10 trabalhadores e que nos últimos três anos aumentaram o emprego em mais de 10%, anualmente).

 

Como se pode constatar, os indicadores escolhidos do UIS para definir os resultados da inovação apenas cobrem a inovação tecnológica, deixando de fora todas as outras formas de inovação. De facto, não são cobertas a inovação organizacional, de processos, de marketing, design ou a inovação por parte dos utilizadores (user innovation), que são mais características do tecido produtivo dos países do Sul da Europa. Aliás, numa altura em que a inovação aberta é cada vez mais uma realidade adotada pelas empresas, é estranho que estas questões não tenham sido abordadas. 

Assim sendo, não é de admirar que neste “novo indicador” sejam os países do Norte da Europa e os mais avançados tecnologicamente que tenham melhor classificação, enquanto que os países do Sul e de Leste se situem abaixo da média da UE28.   

Para sermos corretos, a minha proposta é que se avance para a definição de um indicador (compósito) de inovação não-tecnológica ou, em alternativa, que se inclua esta componente no “novo indicador” de inovação que foi hoje apresentado pela Comissão. Teríamos, certamente, resultados interessantes…