Trump: um retrocesso evitável

08-11-2016 13:41

 

As eleições norte-americanas são importantes para o mundo e para a clarificação da evolução de algumas áreas centrais para o desenvolvimento económico e social nos próximos anos.

Sabemos pela História que as opções políticas determinam e influenciam, em grande medida, as trajetórias tecnológicas e o seu impacto na sociedade, nomeadamente o surgimento de inovações. É o exemplo da política aeroespacial e de defesa dos EUA no Século passado, da qual emergiu a Internet, que se constitui cada vez mais como a base onde assenta a competitividade da economia atual (nos serviços, na indústria ou mesmo na agricultura) e de desenvolvimento social. A “escolha pública” é, desta forma, condicionante do progresso tecnológico e da prosperidade das sociedades, a prazo.

É neste sentido que se torna importante analisar as consequências das eleições presidenciais norte-americanas, sendo este artigo escrito horas antes de se saberem os resultados oficiais. Acreditando nas sondagens, será Hillary Clinton a ocupar o cargo, apesar de haver algumas probabilidades de Donald Trump ser o vencedor.

Para o mundo, e não só para os norte-americanos, não é indiferente quem ganha as eleições. Pelo contrário, estas eleições são importantes para a clarificação da evolução de algumas áreas centrais para o desenvolvimento económico e social dos próximos anos. Quem ganhar as eleições influenciará, em diferentes sentidos, áreas como a energia, as alterações climáticas, a defesa, a saúde ou a Internet – e, consequentemente, o crescimento económico –, que serão fortemente afetadas pelas escolhas dos eleitores, dadas as diferentes visões e propostas dos candidatos sobre estes temas.

Por exemplo, Hillary Clinton prosseguirá o esforço público de aposta nas tecnologias limpas, promovendo a transição para uma economia baseada em baixas emissões de carbono, as energias renováveis, a mobilidade elétrica (como é exemplo o financiamento governamental ao projeto TESLA), ou numa Internet livre de pressões governamentais e gerida de forma colaborativa (multistakeholder). Pelo contrário, Trump optará por reverter estas políticas ou dificultar o seu avanço. São conhecidas as propostas de Trump para recuperar o controlo dos EUA sobre a gestão da Internet ou para favorecer as tecnologias que sustentam o desenvolvimento industrial e societal assente nos combustíveis fósseis. Também na Europa e em Portugal há defensores desta linha de pensamento, a começar pelo lóbi anti-renováveis.

Trump e Hillary representam, assim, visões e opções políticas opostas sobre o progresso económico e social, que determinarão as diferentes trajetórias tecnológicas a desenvolver, e que poderão ter impacto global durante décadas. E os cidadãos terão, mais uma vez, um papel decisivo neste processo.

(Artigo publicado originalmente em Jornal Económico, 08 de novembro de 2016)